terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

terça-feira, 9 de outubro de 2007

E A MOÇA ERA DIFERENTE...





Quando em 1950, estava eu há 5 anos, à espera de me ver curado dum doença grave, no Caramulo, e já no fim destes anos, estava a fazer de locutor na Radio Polo Norte e a certa altura, recebi uma carta muito amável, duma garota de Viseu, que se dizia muito admiradora dos meus programas e da minha voz.


Assim começou uma certa correspondência, até porque ela tinha muita pena de mim, ali abandonado há tantos anos, sem saber se morreria ou viveria...


Mas um dia, eu me mostrei muito interessado em conhecê-la pessoalmente, para o que me preparei para dar um salto a Viseu e ir à sua procura, mas ela logo me informou que não pensasse nisso, porque o seu pai era uma pessoa irascível e se me visse por lá a rondar, até era capaz de me mandar um tiro...


Mesmo assim, resolvi pegar a minha carabina de tiro ao alvo...e ali vou eu, olhando à esquerda e direita, como se estivesse à procura de casa... à procura da casa que me disseram ser aquela que ficava no meio duma propriedade e ali vou eu, com todo o cuidado, sempre pela berma do terreno, para não pizar o lavrado, quando vejo junto da casa, um tipo com as mãos à cintura, olhar seco e altivo, e nitidamente à minha espera... Era ele, o pai da garota !


Quando me aproximei mais, pedi-lhe desculpa da intromissão, mas como estava ali a passear, lembrei-me de ir ali pedir um copinho de água, mas ele mudou logo de fisionomia e até me convidou logo a entrar e ir provar um copo especial do seu vinho, que tinha na adega.

E eu a pensar; " Já estou nas minhas 7 quintas..."


Mal eu me aproximei e o cumprimentei, logo ele gritou para alguém da família, para me trazerem um cálice e me aparece uma senhora com mais uns 25 anos do que eu e acompanhada de duas garotas, talvez com mais uns 5 anos do que eu, onde eu logo descobri a que estava interessado em conhecer pessoalmente, mas era ela era bem diferente do que eu pensava...para pior... e se mostrava muito preocupada com a minha presença, não fosse o pai desconfiar...


Mas não. O pai logo encheu o grande cálice e mo entregou e eu que nada percebia de vinhos, ali fiquei com ele a rolar entre os dedos e a levá-lo ao nariz, até que enfiei um golo e, realmente, aquilo era mesmo bom, para quem estava cheio de calor, naquele quente dia de verão.


A dona da casa logo se apressou a chegar um prato de bolos e as duas garotas muito envergonhadas, ali estavam sem saber o que dizer...e eu a fugir de dar com os olhos nelas, para que o pai não desconfiasse.


E assim foi passando o tempo, em que eu lhes disse que estava ali no Caramulo, à espera da cura da minha doença, que felizmente, tudo indicava que estava já em bom estado e, depois até falámos de música que eu gostava e lá me levaram para a sala, onde puseram a rodar um velho gira discos de agulha e discos a 78 r.p.m. onde pude ouvir várias músicas de Bing Crosby, cantor que gostava muito de ouvir, e elas também.


Depois acabou-se o tempo e vim-me embora para o sanatório, preparar as coisas para deixar a Estância Sanatorial e dirigir-me para Lisboa, onde tinha a família à minha espera.


Mas uns dias depois de estar em casa, aparece-me a mãe das garotas de Viseu, dizendo-me que tinha abandonado o marido e as filhas, para vir viver comigo....


Aquilo é que estava ali uma açorda ! A velha devia estar doida, pela certa !


Mas como eu não avançava, até mesmo muito envergonhado, em frente à senhora com uma data de anos a mais do que eu...ela começou a amaciar-me as mãos, toda dengosa, e cheia de sorrisos, até que eu não pude aguentar mais e fui ao telefone para falar com a filha, a qual se mostrou muito comprometida e aflita, porque andava toda a gente à procura dela...


Também, não havia ela de se sentir tão feliz, ali ao pé daquele rapazinho...

Dado o alarme, passadas poucas horas, me batem à porta e vejo entrar a filha e dois abestalhados enfermeiros vestidos de branco, que se atiram à pobre senhora e logo lhe vestem um colete de forças, rebocando-a para a ambulância, embora ela protestasse com "não me deixes eles levarem-me...Mário "... e eu ali feito parvo, sem nada poder fazer pela pobre senhora...

A vida prega-nos cada partida...




sábado, 6 de outubro de 2007

E O FOGUETE EXPLODIU NA BARRIGA DO CHEFE...



Quando em 1973, ainda a Empresa onde eu sempre trabalhei, a Radio Europa Livre, funcionava, o nosso chefe, Mr. Harry Black mandou encomendar uma data de foguetes normais e outros de fogo de artifício, para serem lançados no dia da Independência dos EUA, em 4 de Julho.

Os funcionários convidados, poderiam ser acompanhados pelas suas famílias, pelo que eu também lá fui parar ao Centro Emissor da Glória, em Marinhais, ao seu jardim, onde se serviu um belo almoço em pé, aos convivas e aquilo teria de demorar bastante tempo, até que se fizesse noite, por causa dos foguetes de lágrimas.

Assim, mal a tarde começou a escurecer, o nossa Administrador começou a convidar alguém da assistência, para que fossem lançando alguns foguetes, mas não sei porquê, toda a gente se encolhia, pelo que tive de avançar, dado já andar a brincar com pólvoras, desde criança, ajudando meu avô, que era médico e caçador, a carregar os seus imensos cartuchos.

E enquanto eles iam estalando e mais uns morteiros à mistura, a tarde foi escurecendo, até que chegou a altura de alguém iniciar o lançamento dos foguetes de lágrimas, aquelas coisas enormes, com mais de dois metros de comprimento e umas cargas enormes, que mais pareciam garrafas de litro...Aquilo até metia medo !

Verdade seja dita, que eu nunca me tinha visto a lançar umas coisas daquelas, mas como continuava a não aparecer ninguém que se oferecesse para o seu lançamento, lá fui eu, mas tendo arranjado um escadote onde me iria colocar, para que os foguetes saíssem a direito, na vertical, e assim aconteceu.

Subido uns degraus do escadote, um ajudante me entregou um dos foguetes de lágrimas e depois de ter acendido um cigarro, vai de experimentar, o que aconteceu de imediato e, perante aquele ruído intenso do arranque daquela coisa, que mais parecia um foguetão da NASA... fico à espera que ele ganhe força de arranque, e vai disto...larguei-o !

De imediato, muitas palmas de júbilo se ouviram . Aquilo estava mesmo bonito, com todo o Centro Emissor iluminado por mil cores . E logo de seguida outro e mais outro, tudo decorrendo na perfeição.

Ali um pouco afastado de mim, estava um outro colega, chamado Ernesto Gama, que também intentou lançar uns foguetes com bombas, que ainda lá existiam, mas depois de muito soprar no borrão do cigarro, aquilo lá arrancou, mas sem observar que o foguete estava na horizontal e de assustado, largou-o, exactamente na altura em que eu lhe gritava para o por em pé, mas já era tarde...

Ele, certamente que nunca havia largado um foguete, senão nunca o iria largar na horizontal...

Infelizmente, mesmo à sua frente, a uma dezena de metros, estava o nosso Administrador, a apreciar a nossa "coragem", quando o malvado foguete do Gama, vai direito à sua barriga e faz saltar todas as suas bombas por todos os lados, por entre as pernas dos convivas, que aos gritos, saltavam de tal maneira, que mais parecia estarem a dançar o fandango e com gritos de horror...

Mas de imediao, mal se estabeleceu a calma e a fumarada das bombas desapareceu, toda a gente verificou que o pobre do Sr. Black, se encontrava todo curvado e agarrado à barriga, o que muito afligiu toda a gente, até porque ele havia tido um AVC há pouco tempo, mas felizmente que lá se endireitou, e com um sorriso mal enfardado, disse que estava tudo OK e que tudo continuasse...

Infelizmente, para ele, foi o último 4 de Julho que viveu, por ter vindo a falecer no ano seguinte, em 1974.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

segunda versão de engenhocando

Como se pode ver pela imagem, de novo já não tenho nada, mas uma vontade irresistível de viver.
Tendo sido acometido de doença gravíssima aos 17 anos, acabei por me curar e em 1951, consegui emprego numa Empresa Americana "Radio Free Europe", no Ribatejo, Benavente, onde fiz toda a minha vida como técnico de electrónica.
Incansável à procura dos porquês de tudo, tenho levado uma vida rocambolesca trágico-cómica, tendo-me casado como uma garota de Benavente, da qual tive 3 filhos.
Em Outubro de 2006, abri um blog a que também intitulei "engenhocando", porque toda a minha já longa vida, tem sido levada a "engenhocar" qualquer coisa.
Neste blog já tive a oportunidade de publicar 79 artigos, desde a minha infância na Escola Primária até hoje, evitando artigos técnicos, os quais foram publicados na Revista de Telecomunicações de VISEU, QSP, onde já conto com mais de 1000 páginas publicadas.
Guardo com imensa saudade a memória de meu irmão, morto em Angola, Carlos Mar Bettencourt Faria, que foi o construtor e director do Observatório da Mulemba, em Luanda.

Só me falta, para começar, dizer que me chamo Mário Portugal Bettencourt Leça Faria e nasci em S. Miguel, Açores, na freguesia de Ginetes, em 1927. Por aqui se pode ver que tenho 80 anos... e uma vontade inabalável de viver e conviver.
E que sejam benvindos todos os que por pura curiosidade, aqui me tenham encontrado e lido.